É certo que a ciência avançou rumo a limites antes inimagináveis. O controle da vida e sua demarcação, antes ligados a transcendência, parece se estender em proporção tal que já não se aceita o fim como condição possível ao humano, diante das milhares de alternativas que a ciência coloca à disposição.
Com um cardápio infindável de alternativas a serem sacadas pelos profissionais da saúde, a cada desdobramento e manifestações clínicas que vão surgindo no desenrolar do fenômeno adoecimento, o paciente e seus familiares alimentam expectativas de prolongamento da existência, como se fosse possível adiar aquilo que se mostra inevitável.
Profissionais da saúde, em especial médicos e enfermeiros, em particular aqueles que vivenciam o cotidiano de atendimento a pacientes graves, com doenças crônico degenerativas e situação especial de diagnóstico, forçados por uma imaginário social que os coloca na condição de, quase deuses, lutam incansável e obstinadamente, por um prolongamento da vida, que na realidade já não se coloca mais como possibilidade, mas que se impõe como realidade.
A bioética, ciência da construção reflexiva, da prudência e da tolerância, precisa contribuir para a construção de um novo paradigma acerca da vida e da morte. O fascínio pela ciência, tão importante como fator de desenvolvimento da humanidade, que nos permitiu chegar ao fantástico mundo no qual vivemos hoje, precisa se submeter a outros valores, que sejam capazes de nos manter ligados à nossa condição de humanos, vulneráveis, frágeis e, ainda hoje, limitados por nossa finitude.