O Médico, o Paciente e o Google

A complexidade da relação entre médico e paciente ganha hoje contornos redimensionados pela facilidade do acesso à informação. Tal redimensionamento parte, então, do plexo de informações facilmente disponíveis na Internet, promissoramente capazes de munir qualquer sujeito de elementos variados que caminhem para um diagnóstico, um prontuário e uma prescrição médica.

Diante de um médico, hoje, surge um paciente contingenciado por uma áurea de expectativas emanadas de leituras desordenadas e angustiado com o panorama que o seu imaginário delineou a respeito de uma possível patologia. Estamos diante de uma espécie de Hipocondria virtual ou Cibercondria, motivada pelo excesso de informações médicas cotidianamente disponíveis nos sites com temáticas em Saúde.

Há de se pensar que tal munição desorganizada de informações revela novos paradigmas da sociedade complexa: o imediatismo e a autossuficiência. A solução imediata, ansiosa e solipsista ao tratamento do sintoma instaurado é o reflexo da forma com que nós, humanos, por vezes, passamos a compreender a vida, enquanto senhores das nossas próprias habilidades e detentores da capacidade de “administrar nossa existência”. Há de se registrar também o medo de estar doente como um vetor da demanda emergencista por uma explicação facilmente acessível.

Disso resulta uma nova atribuição ao profissional da medicina, ínsita ao contexto pós-moderno. Competirá também ao médico reconfigurar a pertinência das informações disponíveis na Internet a partir do redelineamento da função profissional que ele exerce. O diálogo entre os sujeitos deve agregar também um horizonte educativo, capaz de apontar as mazelas aparentemente inocentes da automedicação e descortinar o potencial perigoso do acesso à informação atécnica, causadora, por vezes, de relevantes transtornos físicos e emocionais.

 

Ana Thereza Meirelles
Docente da UNEB, da UCSal, da Faculdade Baiana de Direito e
Doutora em Relações Sociais e Novos Direitos pela UFBA, linha pesquisa Bioética.

6 Comments

  1. João Gabriel

    Que texto ótimo!
    Não só força uma aproximação com o paciente como auxilia o leigo a “correr” de certos profissionais que nos empurram produtos patrocinados travestidos de remédio. Os dois lados ganham – o da verdade e o da saúde!

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